A Arteterapia com crianças tem um campo abrangente para ser explorado. Gostaríamos de contar um pouquinho do nosso estágio com este público. Escolhemos trabalhar com crianças, pois sabemos da importância de ajudar na construção desta fase.
A Escola que realizamos o estágio é uma obra social da Organização Sri Sathya Sai, em Vila Isabel (RJ), onde diretoria e as professoras indicaram um grupo de oito crianças com dificuldade de aprendizado, desatenção e comportamento violento, moradoras de comunidades carentes, dominadas pela violência do tráfico de drogas.
Tivemos um grande aliado neste processo de estágio dentro de um ambiente escolar. Conseguimos realizar nossas sessões na sala de Multimídia, no segundo andar da escola (casa), que nos oferecia um espaço com mais ou menos 30 m2, era perfeito para a realização da Arteterapia.
A sala era de piso branco e frio, que contribuía para o destaque das cores, formas e materiais que usávamos e era fácil de limpar. Tinha disponível um aparelho de som com entrada para CD, um aparelho de DVD e uma televisão. Para completar o ambiente ainda tinha estantes com diversos livros infantis, alguns brinquedos e jogos, um teatro de marionetes, cavalete com bloco de papel, além de almofadas coloridas, duas mesas pequenas e cadeiras que as crianças levavam da sala de aula sempre que iríamos usar.
Utilizamos as primeiras sessões para proporcionar experiências com diversos materiais e técnicas, não estabelecendo temas, apenas deixando que o grupo nos apresentasse suas imagens. Durante esse primeiro ciclo vimos muitas casas, e outras estruturas de proteção como barcos, por exemplo, emergirem nas folhas de papel que dispúnhamos. Não importava a técnica ou material utilizado, sempre apareciam muitas figuras como essas. Nas primeiras sessões também utilizávamos muitos recursos para mantê-los interessados como brincadeiras, histórias e músicas. No princípio era necessário vencê-los pelo cansaço.
É preciso ter “boa forma” para poder brincar, pular, dançar, jogar, rolar, deitar, sentar no chão e muito mais, para trabalhar com este universo infantil. Para as sessões de Arteterapia com crianças é preciso ter várias atividades em mente, pois dependendo do grupo ou cliente, o espaço entre elas pode ser maior ou menor. As crianças mais novas não ficam muito tempo fazendo a mesma atividade.

Com o tempo as crianças foram se soltando, se expressando cada vez mais, com mais conteúdo interno, desabafando os seus momentos vividos, situações e sentimentos que estavam guardados ou adormecidos dentro de seus corações. As crianças conseguem mergulhar na proposta da Arteterapia sem preconceitos, se envolvem mais facilmente, a resistência de se expressar com a arte sem se importar com a beleza ou estética é menor. Às vezes um reclama que não quer fazer, mas depois que vê o grupo trabalhando acaba se entregando.
No entanto, a maioria das crianças do grupo reclamava que não sabia, ou não conseguia fazer as atividades artísticas. Diziam que seus trabalhos eram feios e quando a criança ao lado se entregava à criatividade e se expressava, eles copiavam sua imagem. Observando essa situação, chegamos à conclusão de que se tratava de crianças com a autoestima extremamente baixa e autocrítica elevada.
Acreditamos que em terapia com crianças é preciso passar para o grupo que o espaço é seguro e acolhedor, que eles podem confiar em nós. Foi o que tentamos fazer ao longo de todo o processo. Muitas vezes escutamos e vimos coisas que normalmente repreenderíamos como danças sensuais, músicas de apologia ao tráfico, e confissões, mas o setting terapêutico é o lugar onde se pode ser quem é, e é sempre válido quando conseguimos. Orientar sem criticar, sem dúvida, foi nosso grande desafio, frente ao que nos foi apresentado.
Durante todo o estágio apresentamos um leque de materiais e técnicas para eles desfrutarem e aproveitarem o tempo que estivemos juntos no setting terapêutico. Alguns materiais eles nem conheciam ou nunca haviam utilizado. Apresentamos histórias em livros, filmes, áudio e narrada da forma mais tradicional, ou com fantoches e objetos.
Apresentamos músicas do universo infantil como as do grupo Palavra Cantada, da Bia Bedran, do Milton Catete, Toquinho e Vinícius de Morais, Adriana Calcanhoto, Cantigas de Roda, MPBaby, Cantigas de roda, dentre outras. Conseguimos no último minuto do segundo tempo levá-los ao teatro. E acreditamos que isso lhes abriu um novo olhar sobre o mundo e conseqüentemente sobre eles mesmos.
Foi uma experiência marcante em nossas vidas e acreditamos que na vida de cada um que desfrutou desta oportunidade também. Esperamos que as escolas e os pais olhem para suas crianças com “olhos de ver e ouvido de ouvir” para perceber as demandas desta fase importantíssima da vida. Agradecemos a esta Instituição e aos seus profissionais, que nos acolheram e valorizaram o trabalho de Arteterapia.
"O coração é a fonte da verdadeira educação"
Sai Baba
Texto do Relatório de Estágio, por: Barbara Rodrigues e Raquel Souto.
Orientadora: Ângela Philippini.
Curso de Formação Clínica em Arteterapia pela POMAR - Proposta de Orientação Multidimensional Arte Realidade.
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